A poesia de Sandra Santos
perdi o canto e a cor
descolibri
*
O Capote
o capote testemunhava
falas não gravadas
atas não lidas
o capote vestia
um cabide que escondia
um prego enferrujado
o capote em luto
setenciava mudo
e o general
– pouco aos poucos
esquecia tudo
o capote e o furo da bala
na lapela da morte
*
o ponto inicia num sapatinho
e termina num xale de renda
pé sem meia
resta o calor do braseiro
bule craquelado
guarda morangos vermelhos
canta um galo de lata na chaminé
chama o vento
*
de pão e aramado
teus dedos fartos
argamassa de ovos
trama de cestas
na tela a varejeira
ronda a carne seca
*
Doravante Dora
Na noite escura A luz é Dora
Dourada Dora
Mulher não és
"Rabit", Dora?
Entre os sinais sinaliza Dora
Entre os espelhos Já é Senhora
Sem mãe, sem pai sem história
Simplesmente Dora
Dourando ao sol
Dura luz
De Dezembro
É Dora
Café pequeno
No Café Concerto
Entre borboletas
Mariposa é Dora
DuraDoura
Contra a luz
No chafariz
Moeda morta
Meretriz
Menina
Do fundo do fosso
Canção blue
Tema livre
Dora em declive
Teto Escarro Chão
Na noite escura
Luz difusa
Mariposa descontinua
Alguém chora?
No beco escorre
Para sempre, Dora
*
quem maquiou o céu de cinza para uma noite bélica?
Sandra Santos - Lexofágico
Castelinho Edições - Instante Estante
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